Quarta, 14 de Novembro de 2012 às 11:02

Comissão Nacional da Verdade pede ao governador do Rio que instale Comissão Estadual da Verdade

Pedido foi feito em sessão pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro durante homenagem a militares perseguidos pela ditadura

Membro da Comissão Nacional da Verdade, a advogada Rosa Cardoso pediu publicamente ontem à noite, na Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro, a instalação urgente da Comissão Estadual da Verdade. "O tempo urge e pedimos ao governador Sérgio Cabral que, este ano, antes do Natal, se instale a Comissão da Verdade no Rio", afirmou a advogada durante o ato, uma homenagem a militares perseguidos pela ditadura.

Como a Comissão Nacional da Verdade deve apresentar, de acordo com a lei, seu relatório em maio de 2014, quanto antes as comissões estaduais, de universidades e de entidades estiverem instaladas, maiores as chances delas efetivamente contribuírem para o resgate da verdade, avalia Rosa. A Comissão da Verdade fluminense foi recentemente aprovada pela Alerj, mas os nomes de seus membros ainda não foram indicados.

O ato em homenagem aos militares perseguidos, mortos e desaparecidos pela ditadura foi proposto pelos deputados estaduais Paulo Ramos, Luiz Paulo, Gilberto Palmares e Graça Matos, autores do projeto de lei que resultou na aprovação, pela Alerj, da comissão da verdade estadual no Rio.

O deputado Paulo Ramos, em sua fala, lembrou as dificuldades para a aprovação da Comissão Estadual da Verdade na Alerj, constantemente obstruídas por medidas de um deputado conservador, ligado a setores militares da reserva. "Não é aceitável que eles continuem participando do poder e impedindo que a verdade apareça", afirmou.

Ramos afirmou que a homenagem aos militares legalistas que resistiram ao golpe civil-militar de 1964 e que sofreram todo o tipo de perseguições durante o regime é necessária. "Não podemos aceitar que militares vítimas do regime com o qual eles não concordaram sejam confundidos com aqueles que cometeram atrocidades. Não podem ficar escondidos os nomes dos traidores da Pátria que rasgaram a constituição e não podem ser esquecidas as vítimas de sua perseguição", afirmou.

O ex-marinheiro José Alípio Ribeiro, presidente da Unidade de Mobilização Nacional pela Anistia (UMNA), escolhido para representar os militares-vítimas no evento, contou que 1509 marinheiros e fuzileiros tiveram as carreiras prejudicadas por atos institucionais da ditadura. Muitos foram presos e processados. Ele lembrou também de vários militares mortos e desaparecidos.

PROIBIDOS DE CASAR - Ele contou que marinheiros foram cassados por terem decidido criar uma associação para lutar por melhores condições de trabalho e por direitos civis à tropa. Segundo Ribeiro, marujos e cabos da Marinha eram proibidos de se casar. "Nossas companheiras não eram reconhecidas como nossas esposas pela Força", revelou. Um dos IPMs (Inquérito Policial Militar) instaurados contra os associados da entidade, que foi cassada após dois anos de funcionamento, apontava que o grupo era subversivo por manter um serviço social para os marinheiros.

Pedro Luiz Moreira Lima recebeu a homenagem em nome de seu pai, o brigadeiro Rui Moreira Lima, herói da 2ª Guerra Mundial. Ele afirmou que a perseguição a militares atingiu suas famílias e lembrou a situação dos filhos dos militares perseguidos que acabaram expulsos de cursos de oficiais e de colégios militares. "Por motivos óbvios, eu tinha o sonho de ser aviador, mas este foi abortado", declarou.

Pedro, que está organizando o acervo do pai, também tem colhido depoimentos em vídeo de militares vítimas de perseguições do regime. Ele vai doar suas gravações à Comissão Nacional da Verdade.

4000 MILITARES CASSADOS - Também convidado do evento, João Vicente Goulart, filho de João Goulart, presidente deposto pelos militares que tomaram o poder, lembrou que mais de 4000 militares foram cassados pela ditadura. Ele disse que os militares golpistas se voltaram justamente contra heróis da segunda guerra mundial, como Moreira Lima, pois estes lutaram pela democracia e não se conformaram com a quebra da ordem institucional.

"A luta de todos aqueles que lutaram contra a ditadura era a mesma de Jango, que defendia as reformas de base", afirmou. Lembrando Darcy Ribeiro, João Vicente afirmou que o golpe aconteceu "não pelos erros, mas pelos acertos do governo Jango".

Também convidado ao evento, o vereador carioca Leonel Brizola Neto lembrou de seu avô materno, o coronel reformado da FAB Alfredo Daudt, falecido em 2007, herói nacionalista, que apoiou a cadeia da legalidade, movimento liderado em 1961 por Leonel Brizola para que a ordem constitucional fosse mantida e João Goulart assumisse a presidência no lugar de Jânio Quadros, que havia renunciado ao mandato.

Assim que houve o golpe de 64, Daudt teve seu brevê cassado. Apesar disso, o militar foi contratado para trabalhar na aviação civil, mas teve a carteira de trabalho apreendida. "Seu desejo de voar era tão grande, que ele ia todas às tardes ao aeroporto ver aviões decolarem", lembrou. 

Além de militares perseguidos, organizações de direitos humanos, como o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, e entidades que representam militares anistiados por conta de perseguições durante a ditadura, foram homenageadas ontem à noite na Alerj.

 

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação
Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
(61) 3313-7324 | O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Acompanhe a CNV nas redes sociais: Facebook, Twitter e Youtube.