Sexta, 15 de Março de 2013 às 17:12

"Hoje estamos muito mais próximos da Justiça", afirma Pinheiro, da CNV

nova certido vladoPara Paulo Sérgio Pinheiro, nova certidão de óbito de Herzog e a mobilização social em busca do direito à memória e à verdade demonstram que a luta por direitos humanos no Brasil não foi em vão

"Sairemos certos daqui, dessa cerimônia, que não foi em vão a luta rumo ao direito à memória, a verdade e a Justiça. Hoje estamos muito mais próximos dessa Justiça que inevitavelmente virá", afirmou o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, hoje à tarde na cerimônia em que a Comissão de Anistia reconheceu a condição de anistiado político do estudante da USP Alexandre Vannucchi Leme, morto há 40 anos pela ditadura.

Na mesma cerimônia, a família Herzog recebeu das mãos de Rosa Cardoso, coordenadora substituta da CNV, o novo atestado de óbito de Vladimir Herzog, que altera a causa da morte de asfixia mecânica para "lesões e maus tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)", acabando de vez com a farsa do suicídio do jornalista, montada pela ditadura após a sua morte, em 1975.

"Temos que registrar a luta dessa família persistente, obstinada. Sem essa luta, essa mudança não teria acontecido. Recordar a luta dessa e de outras famílias e de tantos brasileiros que lutam pelo restabelecimento da verdade e que, neste trajeto, às vezes sentem-se cansados e desesperançados é um alento, uma demonstração de que é preciso lutar, que é preciso continuar", afirmou Rosa Cardoso ao entregar à família Herzog o documento.

"Essa enorme vitória da família Herzog é resultado da iniciativa da Comissão da Verdade e abre precedente para que outros casos de 'suicidados', de falsos atropelamentos sejam alterados. A CNV e a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos continuarão trabalhando fortemente nisso. Um país da grandeza do Brasil no cenário mundial não pode conviver com a mentira a respeito de 21 anos de sua história", afirmou Pinheiro.

"Agradecemos à CNV que buscam a verdade de nossa história, que se sintetiza no documento que estamos recebendo", disse Ivo Herzog, presidente do Instituto Vladimir Herzog, e filho do jornalista.

VANNUCCHI – Após a entrega da nova certidão de óbito de Vladimir Herzog, a Comissão de Anistia iniciou a cerimônia de reconhecimento da condição de anistiado de Alexandre Vannucchi Leme, cuja morte pela ditadura completa 40 anos neste final de semana.

Na abertura do evento, o presidente da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, Adriano Diogo, que assim como Vannucchi foi aluno de geologia na USP, lembrou a trajetória do colega, aprovado em primeiro lugar no vestibular. O deputado estadual lembrou que a ditadura chegou a veicular duas versões para a morte do estudante: suicídio e atropelamento e que, depois, tentou eliminar vestígios das torturas, sepultando-o como indigente em cova rasa coberta com cal para acelerar a decomposição do corpo e "apagar as marcas da tortura". "Não podemos perder a capacidade de nos indignarmos apesar do tempo que passou", afirmou.

O presidente do Instituto de Geociências da USP, Valdecir Giannasi, disse que a cerimônia só poderia ocorrer no instituto, que sempre respirou dos ideais de Vannucchi. "É importante reafirmar esses valores para os jovens de hoje, expostos a discursos equivocados, que valorizam a ditadura", afirmou.

Daniel Iliescu, presidente da UNE, e Adrian Fuentes, presidente do DCE da USP, que recebe o nome de Vannuchi Leme, ressaltaram os resquícios da ditadura que ainda assombram o país e lamentaram a repressão ao movimento estudantil da USP. 72 alunos da instituição estão sendo processados pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por formação de quadrilha em virtude da greve de estudantes de 2012.

Na cerimônia de reconhecimento da condição de Vannucchi como anistiado político, colegas de faculdade, amigos e familiares relembraram sua trajetória e a Comissão de Anistia reconheceu Leme como anistiado político e pediu perdão em nome do Estado brasileiro.

No ato também foi lembrado Ronaldo Mouth Queiroz, também estudante da geologia da USP, morto aos 25 anos pelo regime militar

MISSA - Após a cerimônia na USP, será realizada uma missa na Catedral da Sé, às 18h, em homenagem a Alexandre Vannucchi Leme. A celebração será presidida por Dom Angélico Sândalo Bernardino. 40 anos atrás também foi rezada uma missa para Leme na Catedral da Sé por Dom Paulo Evaristo Arns. Apesar da repressão política, a celebração religiosa conseguiu reunir 3000 pessoas.

Assessoria de Comunicação
Comissão Nacional da Verdade
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