Segunda, 15 de Julho de 2013 às 17:52

CNV colhe depoimentos sobre a luta dos camponeses na Paraíba


FOTOA Comissão Nacional da Verdade, a Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória da Paraíba (CEV-PB) e a Frente Parlamentar da Verdade realizaram hoje em Sapé, na Paraíba, uma audiência pública sobre a perseguição às ligas camponesas. Cinco vítimas de graves violações de direitos humanos foram ouvidas desde as 10h de hoje. Veja o acervo e vídeo da transmissão ao vivo em http://www.twitcasting.tv/cnv_brasil/show/

O primeiro a depor foi o ex-deputado Francisco de Assis Lemos, de 84 anos, que foi presidente Federação das Ligas Camponesas da Paraíba,  que contou sobre o desaparecimento dos líderes camponeses João Alfredo Dias, o Nego Fuba, e Pedro Inácio de Araújo, o Pedro Fazendeiro. Segundo Lemos, Fuba foi preso com ele, dias após o golpe. Solto em 7 de setembro pelo Exército, teria sido entregue nas mãos de policiais militares e nunca mais foi visto, bem como aconteceu com Fazendeiro.

Ophelia Amorim contou que as Ligas Camponeses, além do latifúndio, enfrentavam oposição da igreja católica. Segundo a advogada, padres da região disseminavam o medo entre os agricultores, dizendo que as ligas tinham ideologias comunistas e que os camponeses que aderissem às ligas seriam excomungados.  Ophelia também foi presa e respondeu a cinco IPMs em virtude de sua atuação em defesa dos camponeses. Em 1965, ela abandonou a região e foi viver em São Paulo.

O depoimento mais emocionante da manhã foi o de Neide Araújo, filha de Pedro Inácio de Araújo, o Pedro Fazendeiro, desaparecido desde setembro de 1964. "Em 2 abril de 1964 eu fiz 15 anos e meu pai já estava preso. Em 6 de setembro de 1964 foi a última vez que o vi, em João Pessoa", contou.

Segundo ela, a família procurou por Pedro durante muitos anos até que um jornalista revelou imagens de dois corpos encontrados próximos de Campina Grande e ela afirma ter reconhecido o pai e Nego Fuba na imagem. Ela afirmou que gostaria que as buscas pelos restos mortais de seu pai continuassem e que a indenização recebida pela família não cura as feridas do passado:  "A ferida não tá fechada não, porque nunca fecha. Recebemos R$ 100 mil de indenização, mas nem R$ 100 bilhões seriam melhores do que tê-lo em casa, vivo", disse.

Após os depoimentos da manhã, membros e assessores da CNV e da CEV-PB fizeram intervenções e perguntas às testemunhas ouvidas na audiência pública. Nesta fase, Waldir Porfírio relatou as iniciativas realizadas em 1995 em busca dos corpos dos dois líderes camponeses. Já o professor Fábio Freitas, que coordena o grupo de trabalho "Mapa da Tortura", da CEV-PB, afirmou que "a tortura foi uma política de Estado, planejada sistematicamente".

O bloco da manhã, foi encerrado com pronunciamento da deputada federal Luiza Erundina, da Frente Parlamentar pela Verdade, que ela mesma classificou como um desabafo. Para ela, de nada adiantarão as iniciativas das comissões de mortos e desaparecidos, da Anistia e da Verdade se não houver Justiça. Ela voltou a defender seu projeto de lei para a revisão da lei de Anistia.

CABRA MARCADO PARA MORRER – Os depoimentos continuaram à tarde. Elizabeth Teixeira, 88 anos, viúva do líder camponês João Pedro Teixeira, personagem retratado no documentário "Cabra Marcado para Morrer", assassinado a tiros em 02 de abril de 1962, foi a primeira a depor depois do almoço. Depois da morte do companheiro, com 11 filhos, ela assumiu a presidência da Liga dos Camponeses de Sapé. Ela passou 8 meses presa após a ditadura. Um dos filhos dela, Pedro Teixeira Filho, também foi assassinado. E a filha mais velha suicidou-se.

Ao final da audiência, depôs Antonio Dantas, que foi tesoureiro das ligas camponesas de Sapé e fundou a liga de Santa Rita. Ele foi preso 27 vezes em virtude de seu envolvimento com as ligas. Ele ratificou que Pedro Fazendeiro e Nego Fuba foram assassinados.

Sapé é a quinta parada de uma viagem de pesquisa da integrante da CNV Maria Rita Kehl pelo norte e nordeste do Brasil para apurar graves violações de direitos humanos de populações indígenas e de camponeses. No começo de julho ela esteve no Amazonas e em Roraima ouvindo índios Waimiri-Atroari, depois esteve em Belém, onde entrevistou o jornalista Lúcio Flávio Pinto, que há anos denuncia grileiros no Pará. Em seguida, a integrante da CNV ouviu em Alagoas o ex-agente da Funai, Antonio Cotrim, que abandonou o órgão devido a falta de infraestrutura para atender às necessidades básicas dos indígenas.

Após a audiência pública, Maria Rita Kehl , membros da Comissão Estadual da Verdade da Paraíba e participantes da audiência visitaram o Memorial João Pedro Teixeira que registra a luta dos agricultores filiados às ligas camponesas dos municípios da zona da mata paraibana. O memorial fica no distrito de Barra de Antas, no município de Sobrado, vizinho a Sapé.

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação
Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
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