Quarta, 17 de Julho de 2013 às 20:20

Primeira sessão da Comissão da Verdade de Niterói é marcada por depoimentos emocionados

posse CV niteroi publicoEvento aconteceu nesta quarta-feira com a presença de Rosa Cardoso, da Comissão Nacional da Verdade, e Wadih Damous, da Comissão da Verdade do Rio

O auditório do Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFF, em Niterói, ficou lotado na manhã desta quarta-feira (17/07), para a posse da Comissão Municipal da Verdade. A plateia tinha jovens, em sua maioria estudantes de Direito, e também ex-presos políticos que prestigiaram o evento. Na ocasião, prestaram depoimento a ex-líder estudantil Ana Maria Brandão, que esteve presa na Fortaleza de Santa Cruz, e o militante do movimento sindical Benedito Joaquim dos Santos, preso no Estádio Caio Martins.

"A minha fala é para quem não está mais aqui e para os parentes e amigos que sofreram. Contar essa história é muito difícil e doloroso", disse Ana Maria, ao lembrar os momentos que ficou afastada da filha, Ramona, que tinha menos de um ano quando de sua prisão, em 1975.

Na ocasião, Ana foi forçada também a interromper a carreira de pianista. "Cheguei para a aula de piano e o professor me mostrou um jornal, com uma matéria que falava sobre a minha detenção. Ele me disse que eu não poderia mais continuar o curso. E estava ficando mesmo perigoso. A minha carreira dependia do público e o cerco se fechava cada vez mais. Na prisão, quando descobriram que eu era pianista, os torturadores batiam nas minhas mãos", lembrou ela.

Outro depoimento emocionado foi o de Benedito Joaquim dos Santos, de 84 anos. Ex-presidente do Sindicato dos Operários Navais, ele esteve preso no Estádio Caio Martins, o primeiro centro esportivo na América Latina a ser usado como prisão.

"Faço votos de que essa desgraça da ditadura militar nunca mais aconteça e, por isso, o trabalho da Comissão da Verdade é tão importante. Esse passado não pode ser esquecido e ir para a lata do lixo", afirmou. Benedito pediu para que o Caio Martins se transformasse num memorial e que fossem colhidos depoimentos de militantes dos sindicatos navais, especialmente aqueles com dificuldade de locomoção.

Em dezembro passado, a CNV já havia colhido, em audiência pública, o depoimento do advogado Manoel Martins, também preso no estádio niteroiense. Veja aqui.

A posse da Comissão, que terá à frente o advogado Fernando Dias, contou com a presença de Rosa Cardoso, presidente da Comissão Nacional da Verdade, e de Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio.

"Aqui em Niterói a repressão foi muito forte. E houve o uso do Estádio Caio Martins como prisão, a exemplo do que depois aconteceria em outros países, como no Chile", afirmou Rosa.

POLÍCIA CIDADÃ - A presidente da Comissão Nacional também tratou também das recentes manifestações no país e disse que "é necessário civilizar a polícia e torná-la cidadã".

Wadih Damous, por sua vez, destacou a importância de que juventude saiba o que aconteceu durante a ditadura. "Niterói vai nos ajudar a contar esses episódios." Ele também criticou o comportamento da Polícia Militar nas recentes manifestações: "A polícia precisa aprender a conviver com atos de protesto, normais num regime democrático. Se torturadores e assassinos de presos políticos tivessem sido levado ao banco dos réus, isso teria repercussão na atitude da polícia. A impunidade de ontem garante a impunidade de hoje".

Na ocasião, foi assinado entre a Comissão da Verdade do Rio e a Comissão de Niterói um termo de cooperação técnica para que o órgão estadual apoie o trabalho da comissão municipal.

A Comissão da Verdade de Niterói foi projeto do vereador Leonardo Giordano (PT), aprovado por unanimidade na Câmara e sancionado pelo prefeito Rodrigo Neves.


Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação*

* Reportagem de Renata Sequeira, da equipe de comunicação da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro

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