Quinta, 26 de Setembro de 2013 às 20:23

Testemunhos no RJ contam história da repressão ao Sindicato dos Operários Navais

siteRenata Sequeira, da Comissão da Verdade do Rio

No dia do golpe militar, 1º de abril de 64, o Sindicato dos Operários Navais de Niterói e São Gonçalo, localizado no bairro Barreto, em Niterói, foi invadido. Alguns de seus diretores se esconderam para não serem detidos, mas, dias depois, a prisão foi inevitável. Esses momentos foram lembrados no Testemunho da Verdade que aconteceu nesta quarta-feira (25/09), na sede da entidade sindical, em evento realizado pela Comissão da Verdade do Rio e a Comissão da Verdade em Niterói e com participação da CNV. Quatro sindicalistas prestaram depoimento: Benedito Joaquim dos Santos, Jayme Navas, Oswaldo Veloso e José Gonçalves.

"Fui a última pessoa a pegar o microfone para pedir que todos saíssem do sindicato, porque tínhamos a informação de que a polícia ia invadir o local. Saímos igual a ratos com medo dos gatos", contou Oswaldo, que lembrou detalhes da sua prisão: "No dia 7 de abril, depois de ter recebido a ordem para voltar ao trabalho, recebi a notícia, do meu chefe, de que estava preso e que ficaria sob a responsabilidade dele. Ele sugeriu que eu me escondesse no navio, pra que fosse retirado de madrugada. Não aceitei. Acabei sendo levado e passei o pior momento da minha vida".

Oswaldo foi obrigado a ficar de cara para um paredão e ouviu quando um oficial disse: "Pelotão, sentido". Os militares bateram as botas e engatilharam as armas. "Eu me senti morto", desabafou. A cena se repetiria quando Oswaldo foi levado para o Centro de Armamento da Marinha. "Essa era a tortura psicológica que faziam. Sofri muito também no Dops. Muitos presos se desesperavam e batiam com a cabeça na parede".

O sindicato, construído com o dinheiro dos próprios integrantes, foi sede de momentos marcantes na história e, por isso, um dos primeiros locais a sofrer com a repressão militar. O local recebeu o Congresso Latino Americano em Solidariedade a Cuba, decisão que contrariou o governador do antigo estado da Guanabara, Carlos Lacerda. Outro fato marcante, e que os sindicalistas fizeram questão de contar, foi a visita do presidente João Goulart.

"Eu sabia que estava sendo preso por causa da minha atuação, da minha luta a favor da pátria", disse Jayme Navas que, à época, era secretário geral do sindicato, tendo sido eleito em 1963. Ficaria no cargo até 1965, mas a ditadura cassou seu mandato. Foi preso em 11 de junho de 1964 depois de ter descoberto que seu pai e irmão tinham sido levados como reféns.

"Os militares invadiram a minha casa e, como não me encontraram, levaram o meu irmão e meu pai como reféns. Eles só seriam soltos se eu me apresentasse no Centro de Armamento da Marinha. Foi o eu que fiz. Passei 68 dias naquele local sem direito a tomar banho e pegar sol".

A atividade teve a presença de Rosa Cardoso, membro da Comissão Nacional da Verdade, que coordena o grupo de trabalho "Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical", que pesquisa o assunto com o apoio de dez centrais sindicais.

"Esse grupo de trabalho da Comissão Nacional tem por finalidade investigar as violações contra os sindicatos e seus membros e também a perseguição por parte das empresas, a seus funcionários. É necessário revisitar esse passado porque a sociedade tem o direito de saber o que aconteceu", destacou Rosa.

O presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, destacou a repressão que se abateu fortemente contra o movimento sindical. "Muitos sindicalistas tiveram seus mandatos cassados. Outros foram demitidos ou aposentados compulsoriamente. É de extrema importância reconstruir essa memória e foi para isso que a Comissão da Verdade organizou esse testemunho".

A solenidade contou ainda com a presença do presidente da Comissão da Verdade em Niterói, Fernando Dias, os membros da CEV-Rio, Geraldo Cândido e Marcelo Cerqueira, e o deputado estadual Gilberto Palmares (PT-RJ).

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação

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