Segunda, 04 de Novembro de 2013 às 16:37

Ex-presa política argentina discute desaparecimentos forçados no regime militar de seu país

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo "Rubens Paiva" recebeu, na última quarta-feira (30/10), a cientista política argentina Pilar Calveiro, que foi sequestrada e aprisionada em campos de extermínio argentino. A autora está lançando o livro "Poder e desaparecimento: Os campos de concentração na Argentina", e aproveitou a vinda ao Brasil para participar de uma audiência pública sobre o tema.

Ainda na abertura da audiência, Alberto Albiero, advogado do ex-grupo político Convergência Socialista, criticou que a ditadura brasileira ainda é vista como "branda", quando comparada a da Argentina. "Talvez não tenhamos tantos desaparecidos, mas no cunho político e de perseguição, elas são muito semelhantes", destacou. Em seguida o professor de Direitos Humanos da USP, Marcos Orione, afirmou que somente a sociedade civil organizada tem o poder de mobilização necessário para que se descubra o que aconteceu naquela época.

Para Rosa Cardoso, membro da CNV, é preciso revelar como as vítimas da ditadura eram desumanizadas, e rediscutir o papel do repressor. "É comum pensar no violador como menos humano e mais monstro, mas temos que refletir sobre isso, não podemos ter uma conduta simétrica, como eles tiveram". Pilar Calveiro foi além, e disse ainda que militares não eram "monstros" e sim pessoas dispostas a cumprir suas funções. "Homens médios, hipócritas e medíocres", afirmou. Segundo a autora, resistir às violações de direitos humanos é uma forma de sobreviver a isso. "A resistência não acontece somente para quem sobrevive, mas também na sociedade. É fundamental entender os campos de concentração como forma de controle, e sua institucionalização formou uma máquina de torturar, arrancar informação, aterrorizar e matar", ressaltou.

"Poder desaparecedor"

Pilar revelou detalhes sobre os mecanismos que o Estado possui para exercer um "poder desaparecedor", deixando de ser apenas uma modalidade de repressão para se constituir na modalidade repressiva do poder, com a organização dos campos de extermínio dos opositores políticos. A autora analisa os desaparecimentos forçados ocorridos na Argentina e os desdobramentos desta prática na sociedade atual. Pilar ainda afirmou que os desaparecimentos aconteceram, mesmo que em intensidades diferentes, não só na Argentina como em todos os países da América do Sul. Pilar destacou ainda as semelhanças entre a ditadura na Argentina e os campos de concentração nazistas. "Ambos são lugares de aplicação de torturas ilimitadas. Primeiro assassinam e eliminam os restos físicos. Depois as provas desaparecem e logo vem a impressão de se desaparecer a culpa."

No encerramento do evento, Rosa Cardoso, membro da CNV, lembrou do caso do pedreiro Amarildo de Souza, detido por policiais militares e desaparecido no Rio de Janeiro em 14 de julho deste ano. "É interessante a forma como Pilar faz a discussão sobre passado e presente, temos hoje no Brasil como exemplo disso o caso Amarildo, muito parecido com os casos de desaparecimento forçado." A autora disse ainda que é preciso ser otimista. "Estamos em um momento bom, que é muito mais favorável, no México temos um momento parecido, muita gente jovem participando nessa luta, o que é esperançoso".

Pilar Calveiro - Nascida na Argentina, é doutora em Ciências Políticas pela Universidade Nacional do México. Exilou-se neste país após ter sido sequestrada e torturada em diversos campos de concentração na Argentina, tendo permanecido presa por quase um ano na Escola de Mecânica da Armada (ESMA) entre 1977 e 1978. É autora de numerosos artigos publicados em livros e revistas acadêmicas no México, Argentina e França. Atualmente é professora investigadora da Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (Cidade do México).

Publicou "Poder y desaparición, los campos de concentración en Argentina" Buenos Aires, Colihue, 1998; "Redes familiares de sumisión y resistencia". México: UACM, 2003; "Familia y poder" Buenos Aires: Libros de la Araucaria, 2006; "Política y/o violencia. Una aproximación a la guerrilla de los años 70". Buenos Aires: Norma Editorial, 2006; e "Violencias de estado. La guerra antiterrorista y la guerra contra el crimen como medios de control global". Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2012.

Comissão Nacional da Verdade
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