Sexta, 06 de Dezembro de 2013 às 14:14

37 anos depois, Jango é sepultado novamente em São Borja

sao borjaPresidente João Goulart teve cortejo em carro aberto e foi recebido com honras militares em sua cidade natal

Os restos mortais do ex-presidente João Goulart foram devolvidos ao jazigo da família na tarde desta sexta-feira (6) em São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. A cerimônia, que contou com a presença de familiares de Jango, da Ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos (SDH/PR), e da Comissão Nacional da Verdade, foi marcada por grande comoção do povo da cidade, que lutou as ruas para esperar seu filho ilustre.

Diferente da cerimônia de exumação, que ocorreu no dia 13 de novembro, desta vez foi autorizada a presença de populares no cemitério, que se juntaram à viúva de Goulart, Maria Thereza Goulart, os filhos, João Vicente e Denize Goulart, e os netos de Jango, para dar mais um adeus, e homenagear o ex-presidente.

A cerimônia terminou pouco antes das 17h e o túmulo foi lacrado por funcionários da prefeitura. A comoção também levou alguns a subirem sobre outros túmulos próximos ao de Jango para observar o sepultamento. As autoridades políticas presentes voltaram a entoar gritos de "Jango, Jango". Moradores, como Jussara Medeiros da Silva, permaneceram na praça XV de Novembro, no centro da cidade, esperando pelo ex-presidente. Depois da missa, ela seguiu o cortejo até o cemitério, enrolada numa bandeira do Brasil.

O povo aplaudiu os dois cortejos. Do aeroporto até a igreja e da igreja ao cemitério. No templo, o povo cantou o Hino da Independência e o Hino Nacional. Veja: http://bit.ly/1bmnH7q

Saída de Brasília - O esquife com os restos mortais do ex-presidente João Goulart deixou a base Aérea de Brasília por volta das 8h20, conduzido por um avião da Força Aérea Brasileira, acompanhado de familiares, além das equipes da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e da Comissão Nacional da Verdade (CNV). O desembarque em São Borja (RS) ocorreu por volta das 12h51, de onde seguiu para a Igreja Matriz São Francisco de Borja.

O corpo de Jango estava na capital federal desde o dia 14 de novembro, data da exumação no município gaúcho. Em Brasília, logo depois de receber as honras de Chefe de Estado, com a presença da presidenta Dilma, os restos mortais permaneceram no Instituto Nacional de Criminalística do Departamento da Polícia Federal (INC/DPF), onde foram coletadas as amostras para os exames toxicológicos, que serão enviados a laboratórios estrangeiros.

A ministra Maria do Rosário, da SDH/PR, recordou que com esse ato, o governo brasileiro consolida mais um compromisso assumido ao longo do processo. "Estamos cumprindo com a responsabilidade que assumimos com a família e com a comunidade de São Borja, do Rio Grande do Sul e do Brasil", afirmou.

Rosário também disse que o objetivo do governo brasileiro, representado pela SDH/PR e pela CNV, é que o país tenha conhecimento de todos os fatos que constituem a História. O processo de exumação, coleta de amostras e exames toxicológicos é parte do esforço para esclarecer as reais circunstâncias que levaram Jango à morte. "Vamos trabalhar o laudo como um todo, essa é a referência. A diretriz é que tanto o laudo antropológico, quanto o laudo antemorten, quanto o laudo posterior e toda a pesquisa de caráter toxicológico sejam apresentados em conjunto para o país", garantiu. A decisão de exumar o ex-presidente foi tomada em conjunto com a CNV e o MPF-RS, que investiga o caso em um inquérito civil. O trabalho teve a consultoria da Cruz Vermelha Internacional.

Em nome da família, João Vicente Goulart, filho do ex-presidente, comentou sobre a grande carga emocional do momento. "É difícil porque estamos enterrando um pai pela segunda vez e desenterrando uma luta de dignidade, de sofrimento pelo Brasil", desabafou. Ele ainda abordou o cumprimento do compromisso com a comunidade de São Borja e do significado histórico da exumação. "Estamos retornando os restos mortais dele para a sua cidade, para o seu povo. Sem dúvida, estamos fazendo a revisão de sua vida, da luta e das propostas do presidente Joao Goulart. O golpe de Estado de 1964 não foi dado contra o presidente Jango, foi dado contra as reformas de Base propostas pelo seu governo", disse João Vicente.

Líder sindical e amigo de Jango, Rafael Martinelli, um dos líderes do Comando Geral dos Trabalhadores, primeira central sindical do Brasil, que apoiava as reformas de base de Jango acompanhou a comitiva.
"[João Goulart] era um homem que se reunia com o movimento sindical como um irmão e sabia o que era necessário para fazer o Brasil crescer", declarou.

Fotos e mais informações sobre a volta dos restos mortais de João Goulart ao Rio Grande do Sul no Facebook da CNV: http://on.fb.me/1bmnph9

Assessoria de Comunicação
Secretaria de Direitos Humanos e Comissão Nacional da Verdade