Quarta, 07 de Maio de 2014 às 19:27

Antropóloga entrega à CNV depoimento sobre prisão no Doi-Codi do Rio

editada5 marcio lucia vers siteA antropóloga Lúcia Hussak Van Velthem entregou hoje à CNV depoimento de 17 páginas em que conta em detalhes o período de nove dias que passou presa no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) do Rio de Janeiro, localizado no quartel em que funcionava o 1º Batalhão de Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, na Tijuca.

Lúcia foi presa em 20 de junho de 1972, quando estudava museologia da UNIRIO e militava na União da Juventude Patriótica, órgão estudantil do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). "Não fui ao Araguaia porque fui presa", contou a antropóloga hoje à tarde ao entregar o documento à CNV.

Uma de suas maiores amigas foi Jana Moroni Barroso, com quem chegou a dividir apartamento. "Eu fui a última a vê-la no Rio antes que ela partisse para o Araguaia", contou. "Aluna de museologia, eu era muito ligada ao pessoal da biologia e minha militância consistia em pichações de muros e traduções de textos ideológicos sobre comunismo. A UJP não era um grupo diretamente ligado à luta armada", disse

No Doi-Codi, Lúcia sofreu e testemunhou torturas e ficou próxima da cela de José Roberto Brum de Luna, uma das principais lideranças da UJP. Segundo ela, nos interrogatórios, os agentes da repressão a questionaram muito sobre outro líder da UJP, Lincoln Cordeiro Oest, preso, torturado e morto no final daquele ano. "Eu consegui ter sangue frio para continuar negando (que o conhecia)", contou.

Lúcia foi recebida por pesquisadores e pelo secretário-executivo da CNV, André Saboia, que ressaltou a importância do depoimento da antropóloga. "Seu depoimento, cruzado com o de outras pessoas que estiveram presas no Doi-Codi do Rio, pode nos ajudar a montar uma visão mais completa daquele centro de tortura", afirmou.

Depois de solta, ela conta que ficou no Rio, sob vigilância, durante 6 meses e, em 1973, mudou-se para Belém. Nos anos 80, trabalhando no Museu Goeldi, recebeu o telefonema de um ex-agente da repressão: "Joana, como vai você?", disse o ex-agente que, àquela altura, servia na Funai. Joana era o codinome de Lúcia, informação conhecida apenas por companheiros da UJP e pelos ex-agentes.

Além de cruzar os dados entregues por Lúcia com os contidos em outros depoimentos e documentos, a CNV vai encaminhar, a pedido da depoente, cópia do texto à Comissão da Verdade do Rio.

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação

Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
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