Quarta, 24 de Setembro de 2014 às 13:05

Sete ex-presos reconhecem celas e salas de tortura no Doi-Codi do Rio

doi testemunhasSete ex-presos políticos torturados no Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), órgão da repressão que funcionou em vários Estados de 1970 a 1975, e que no Rio ocupava instalações do 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca, reconheceram salas em que foram torturados e celas em que ficaram presos, apesar das modificações ocorridas no local desde os anos 70, durante visita realizada pela Comissão Nacional da Verdade e pela Comissão da Verdade do Rio ao quartel da rua Barão de Mesquita, na Tijuca, na manhã desta terça-feira (23).

As testemunhas ouvidas pela CNV hoje estiveram presas no local entre 1969 e 1975, são elas: Francisco Celso Calmon (advogado, preso em 1969), Paulo César Ribeiro (preso em 1970), Gildásio Cosenza (preso em 1975), Álvaro Caldas (membro da CEV-Rio, preso em 1970), Ana Bursztyn Miranda (presa em 1970), Vera Vital Brasil (psicanalista, presa em 1969) e Newton Leão Duarte (preso em 69 e em 73). O PIC era usado como local de prisão e tortura antes da denominação DOI-Codi, estabelecida em 1970.

Ao todo, 48 pessoas foram mortas no Doi-Codi do Rio, das quais 33 encontram-se desaparecidas até hoje.

Todas as celas e salas reconhecidas pelos ex-presos ficam nos dois pavimentos do prédio do Pelotão de Investigações Criminais, nos fundos do quartel. Também foi reconhecida uma área atrás do PIC, local onde Ana Miranda afirma ter sido torturada, nua, com o uso de um jacaré vivo.

Os presos, em virtude de terem passado diferentes períodos no DOI, indicaram mudanças nas instalações e "sofisticações" nos métodos de tortura empregados. Os relatos dos ex-presos indicaram o uso de solitárias e de celas com alterações bruscas de temperatura, conhecidas como geladeira ou sala branca, e luminosidade, a cela roxa. Os presos eram submetidos a diferentes métodos de tortura, como choques, pau-de-arara, cadeira do dragão e espancamentos. Também havia diferentes formas de tortura psicológica, como simulações de fuzilamento.

Segundo o coordenador da CNV, Pedro Dallari, a diligência cumpriu na totalidade seu objetivo. Os peritos da CNV puderam fazer levantamentos necessários para fazer um mapa do centro de repressão, informação que será fundmental para o relatório da CNV, que será entregue em 10 de dezembro deste ano.

HCE - Após visitar o antigo Doi-Codi, os membros da CNV e da CEV-Rio e as vítimas do regime militar seguiram para o Hospital Central do Exército (HCE), no bairro de Benfica, onde foi torturado e morreu Raul Amaro Nin Ferreira. A visita durou cerca de duas horas, mas como as instalações internas do hospital foram modificadas e modernizadas não foi possível o reconhecimento dos locais de tortura.

Durante a diligência, Pedro Dallari se reuniu com o general Vitor Cesar, comandante do HCE, e sugeriu a criação de um grupo de trabalho formado por membros do Exército e da CNV para procurar e examinar os prontuários médicos de pessoas que passaram pelo hospital durante o período da ditadura. A CNV vai fazer um pedido formal ao Ministro da Defesa, Celso Amorim, para ter acesso a esses documentos que detalham o estado de saúde dos pacientes.

DEPOIMENTO - A integrante da CNV Maria Rita Kehl ouviu pela manhã o depoimento de Alberto Nascimento Filho, neto do Jornalista do diário oficial de Niterói, Manuel Sena, que foi perseguido pelo governo militar. Sena era militante político, amigo de Luiz Carlos Prestes e de vários outros integrantes do partido Comunista.

Segundo Alberto, durante o governo ditatorial, o avô foi várias vezes interrogado pelos militares, e, aos 90 anos de idade, em 1984, desapareceu.

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação

Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira e Fabrício Faria
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