Quarta, 29 de Agosto de 2012 às 10:02

Violência policial de hoje é legado da Ditadura, afirma Comissão da Verdade em visita ao Pará

Pela manhã, Comissão da Verdade encontrou o governador paraense, Simão Jatene, que vai criar uma Comissão da Verdade Estadual

Membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em sessão aberta realizada hoje de manhã na subseção da Ordem dos Advogados do Brasil no Pará, ouviram relatos de integrantes da OAB local sobre violência policial e trotes violentos praticados em uma unidade da Aeronáutica em Belém.

Paulo Sérgio Pinheiro e Cláudio Fonteles esclareceram que a violência de hoje não será objeto do relatório circunstanciado da Comissão da Verdade, que se debruçará sobre graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 1946-1988, previstas no mandato da Comissão, entretanto deixaram claro que as recomendações que a CNV enviará ao Estado brasileiro junto com o relatório serão "voltadas para os tempos atuais".

Segundo Pinheiro, "os países que não passaram pelo processo de Comissões da Verdade lidam mal com o passado ditatorial". De acordo com o professor, as recomendações abordarão a estrutura policial brasileira de hoje. "Vamos dizer que não pode continuar como está", disse.

Cláudio Fonteles reafirmou que a parceria com a sociedade civil e os governos dos Estados é fundamental para os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. "Não faremos nada sozinhos. É preciso a criação e a manutenção de uma grande rede de cidadania que torne perene a luta por um estado democrático de direito", disse.

COMISSÃO ESTADUAL - Pela manhã, os membros da Comissão Nacional da Verdade se encontraram com o governador do Pará, Simão Jatene, que recebeu membros do Comitê Paraense pela Memória, Verdade e Justiça e representantes da Une, da União Acadêmica Paraense, do DCE da UFPA e do Levante Popular da Juventude, que pediram a criação de uma Comissão Estadual da Verdade no Pará.

O governador relatou episódios de censura de uma música que compôs para uma peça de teatro e de uma cena da mesma apresentação e disse que vai encaminhar projeto de lei para a criação da Comissão estadual e encarregou o secretário de Justiça, José Acreano Brasil Júnior para articular esta missão. "Um povo sem memória não é povo, é população", declarou. Jatene afirmou que vai chamar os líderes de bancada para definir com seu governo um projeto de lei com apoio suprapartidário.

Os membros da Comissão da Verdade avaliaram muito positivamente o encontro. "O governador deu seu apoio à criação de uma comissão estadual e determinou medidas concretas à sua equipe para que isso venha a acontecer o mais breve possivel", afirmou Fonteles.

DEPOIMENTOS - À tarde, na audiência pública, a Comissão Nacional da Verdade ouviu depoimentos de cidadãos paraenses que foram presos e perseguidos ou que tiveram amigos e conhecidos mortos pela repressão, entre eles o do ex-governador do Pará Aurélio do Carmo, cassado em 1964, e que hoje tem 90 anos.

Dentre os depoimentos, chamaram a atenção dos membros da Comissão aqueles descrevendo o terror psicológico vivido na época pelos militantes que se opunham ao regime militar em Belém e no interior do Estado.

"Os relatos mostram que as pessoas, além do sofrimento com os desaparecimentos forçados e a tortura, eram também afetados por esse terrorismo de Estado", afirmou Pinheiro.

Ao final do evento foi exibido o documentário "Araguaia-Campo Sagrado", de Evandro Medeiros, que reúne relatos de camponeses do sudeste do Pará.

 

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação
Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
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