Ato sindical unitário relembra repressão aos trabalhadores na ditadura - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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Segunda, 22 de Julho de 2013 às 17:29

Ato sindical unitário relembra repressão aos trabalhadores na ditadura


mesaVários participantes do evento lembraram que repressão policial às greves na ditadura, com prisões indiscriminadas e violência desproporcional e ilegal, se repetiram na repressão às manifestações de junho deste ano pelo país

A repressão empregada pelos órgãos de segurança contra os trabalhadores em diferentes fases da ditadura foi relembrada no Ato Sindical Unitário "A Verdade e a Memória dos Trabalhadores por Justiça e Reparação", realizado hoje em São Paulo. As centrais sindicais reivindicam mais reconhecimento do valor político dos operários e outros trabalhadores no processo de resistência ao regime ditatorial brasileiro.

O Ato Sindical Unitário foi o primeiro evento público organizado e realizado pelo coletivo sindical de apoio ao Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical, da CNV. O coletivo reúne representantes de 10 centrais sindicais brasileiras: CUT, Força Sindical, CGTB, CSB, CSP-Conlutas, CTB, Intersindical - Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora, Intersindical - Instrumento de Luta, Unidade da Classe e de construção de uma central, NCST e UGT.

O ato relembrou a Grave Geral de 1983, que completou 30 anos no último domingo (21/07). No bloco de abertura do evento foi exibida uma versão de 10 minutos, editada por Celso Maldos, de um documentário sobre a greve. As imagens mostravam como a repressão agiu para tentar reprimir o movimento nacional, que paralisou mais de 3 milhões de trabalhadores e foi decisivo para acelerar a queda do regime militar junto com uma série de greves contra a repressão político-sindical e o arrocho salarial.

Entre as medidas empregadas pela repressão policial estava a prisão indiscriminada de transeuntes e o uso desproporcional de armas não letais, como gás lacrimogênio. Numa cena, testemunhas relatam à TV o arremesso de uma bomba de gás contra um grupo que estava reunido numa igreja para fugir da polícia, cenas parecidas às ocorridas na repressão aos protestos de junho em diferentes estados do Brasil, quando tiros de borracha e bombas de gás lacrimogênio foram atiradas contra pessoas que se abrigavam em estabelecimentos comerciais e até em hospitais.

A lembrança das cenas de 1983, associadas às de 2013, apareceram no discurso de vários dos participantes do ato desta manhã, realizado na sede do Sindicato Nacional dos Aposentados, local onde funcionou o antigo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

Djalma Bom, líder metalúrgico do ABC nas greves do final dos anos 70 foi cassado da diretoria do sindicato pela ditadura. Em 1982, com o fim do bipartidarismo imposto pelo regime, ele foi eleito deputado federal e participou da organização da greve geral em São Paulo, junto com Lula, Jair Meneghelli, Arnaldo Gonçalves e muitos outros.

"A repressão continua tão ativa quanto antes. Remanescentes da ditadura militar ainda estão de plantão. Muita coisa ainda tem que ser feita. Esse ato é muito importante para que a gente continue na nossa trincheira de luta para que possamos ter a verdadeira democracia", afirmou. "Nós trabalhadores precisamos de democracia e liberdade para lutarmos por nossos direitos", afirmou Arnaldo Gonçalves, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos. "Se tem baderneiro é a polícia do governo, não é o trabalhador aqui", disse Lula em 1983, durante a greve, em cena mostrada no vídeo exibido.

"É importante a gente rememorar, reescrever a memória e colocar isso nas recomendações para que essa história não se repita, mas, infelizmente, essas violências continuam se repetindo", afirmou Luiz Carlos Prates, o Mancha, da CSP-Conlutas, que afirma que a polícia e outros órgãos de segurança continuam a infiltrar agentes em eventos sindicais e greves.

VÍDEOS E HOMENAGEM – Durante o evento foram exibidos sete vídeos com depoimentos gravados pelas centrais com líderes de diferentes greves e movimentos de trabalhadores nos anos 60, 70 e 80 que sofreram com a repressão política.

O último vídeo exibido foi um trecho do depoimento prestado pelo sindicalista José Ibrahin, um dos líderes da greve de metalúrgicos que parou Osasco em 1968 e que, por isso, foi preso e torturado. No depoimento, ele lembrava a necessidade de se construir uma memória dos trabalhadores alvo da repressão política: "Daqui a pouco nós não vamos estar aqui para contar essa história", afirmou, menos de 30 dias antes de morrer, no último dia 2 de maio. Ibrahin integrava o coletivo de apoio ao GT Sindical pela União Geral de Trabalhadores (UGT).

Para Rosa Cardoso, coordenadora da CNV e do GT Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e que também coordena o GT da CNV sobre o Golpe Civil-Militar, um dos motivos do golpe de 1964 era reprimir os movimentos de trabalhadores, que obtiveram avanços no campo popular, como a proposta das reformas de base, no governo João Goulart.

"Os trabalhadores foram o objeto principal do golpe, que foi um golpe de classe. Um golpe contra uma 'República Sindical´. Não era a questão comunista a principal, mas dar um golpe contra a causa dos trabalhadores. Isso tinha muito a ver com o Estado que eles queriam construir naquele momento. A repressão se abateu, principalmente, sobre a classe trabalhadora", afirmou.

José Luiz Del Roio, que era bancário antes do golpe, acompanhou de perto como a repressão atacou os sindicatos e depois ingressou na luta armada, tornando-se co-fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), ao lado de Carlos Marighella.

"Após o golpe, procurei onde poderia encontrar a resistência e vim até este prédio (no local, funcionava na época o sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, com 700 mil inscritos). Quando cheguei, os vidros já estavam quebrados e os armários revirados. No ato do golpe, os militares interviram em 500 sindicatos e foram presas naquelas duas, três semanas, algo em torno de 50 mil pessoas. A ditadura castrou o movimento sindical, depois veio o arrocho", afirmou. Estimativas indicam que mais de 800 sindicatos tenham sofrido intervenção, monitoramento ou invasão durante a ditadura.

Em entrevista após o evento, Rosa Cardoso anunciou que o GT Ditadura e Repressão aos Trabalhadores vai ouvir mais trabalhadores vítimas da repressão em novas audiências públicas. O GT deve se reunir com os sindicalistas do grupo de apoio no próximo dia 30 de julho em São Paulo para definir esse calendário.

Leia também: Com ato sindical unitário, Grupo dos Trabalhadores reforça papel da Comissão Nacional da Verdade

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