Ex-presos do DOI-Codi confirmam prisão e tortura de Mário Alves - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Quarta, 14 de Agosto de 2013 às 16:50

Ex-presos do DOI-Codi confirmam prisão e tortura de Mário Alves

valter jacarandaEx-major Jacarandá, um dos apontados como responsáveis pela morte de Mário, confirmou a existência de torturas do DOI-Codi e sua participação em interrogatórios com essas práticas

A Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro ouviram na manhã desta quarta-feira, 14, seis ex-presos políticos que foram presos e torturados nas dependências do DOI-Codi, localizado na rua Barão de Mesquita, na Tijuca, Rio de Janeiro. O local é o mesmo onde foi preso, torturado e assassinado, em 16 de janeiro de 1970, Mário Alves, militante de resistência ao regime ditatorial de 64 e líder do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).

Álvaro Caldas, José Luís Sabóia, José Carlos Tórtima, Maria Dalva Leite de Castro, Newton Leão Duarte e Paulo Sérgio Paranhos, todos ex-presos do DOI-Codi da Tijuca, relataram as torturas às quais foram submetidos nas dependência da instituição e os comentários que corriam no local a respeito do líder Mário Alves. "Eles confessaram o assassinato de Mário quando quiseram me intimidar. Me perguntaram: 'quer o mesmo tratamento, sua puta?'", lembrou Maria Dalva.

Os torturadores ameaçavam introduzir no ânus de Maria Dalva um cassetete com arame farpado, "perfurando o intestino e causando hemorragia interna", nas palavras dos algozes, lembradas por ela nesta manhã. Mário Alves morreu em decorrência de hemorragia interna após passar por sessão de tortura que durou toda a madrugada do dia 17 de janeiro.

De acordo com relato dado à OAB em 1982 pelos ex-presos políticos Antônio Carlos de Carvalho, José Carlos Brandão e Raimundo Teixeira Mendes, que estavam detidos no Codi no dia em que Mário chegou, o jornalista teria sido torturado durante toda a madrugada do dia 17, com sessões de choque, pau de arara e empalamento.

A única de filha de Mário Alves, Lúcia Vieira Caldas, também compareceu à sessão e leu uma breve biografia do pai. Mário ingressou na militância com apenas 16 anos e foi um dos fundadores da UNE na Bahia. Se filiou ao PCB e, após romper com o partido, participou na fundação do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). "Mário levou uma vida curta, toda ela de lutas. Hoje a verdade finalmente está sendo revelada, e a historia fará justiça", disse Lúcia. Justamente por ser uma liderança, Alves foi perseguido e barbaramente torturado quando chegou às dependências do DOI carioca.

A advogada e coordenadora da CNV, Rosa Cardoso, destacou a importância de audiência para relembrar os atos cometidos no passado com a finalidade de que não se repitam. "A tortura física, a tortura psicológica, são temas muito presentes em nossa sociedade. Essa sessão de hoje nos leva a uma reflexão profunda e vivida sobre isso, porque aqui hoje nós ouviremos testemunhas dessas práticas."

AGENTES DO REGIME – Quatro ex-militares, apontados como os responsáveis pela tortura de Alves, foram convocados pela Comissão Nacional da Verdade para comparecerem à audiência de hoje. Os ex-tenentes do Exército Dulene Garcez, Luiz Mário Correia Lima e Roberto Duque Estrada se negaram a comparecer e enviaram petição através do advogado Rodrigo Rota ponderando que já haviam sido ouvidos em outras circunstâncias pelos mesmos fatos que seriam objeto da audiência de hoje e que, por isso, não se sentiram na obrigação de comparecer.

Outro convocado, o ex-major do Corpo de Bombeiros Valter da Costa Jacarandá, compareceu à audiência e foi interrogado por cerca de 50 minutos pelo presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous. Durante o interrogatório, negou ter conhecido ou torturado Mário Alves, porém confirmou que havia torturas no DOI-Codi. Confirmou também que levantava informações sobre os militantes da resistência, e que participava de interrogatórios onde havia "excessos". Mais tarde reconheceu que os excessos eram a tortura. Ao ser perguntando quantas pessoas ele teria torturado, respondeu: "Não lembro".

Wadih Damous destacou que, mesmo sem a confirmação de Jacarandá ou dos outros acusados, a morte de Mário Alves nas dependências do DOI-Codi do Rio de Janeiro em 17 de janeiro de 1970 é certa. "Não tínhamos nenhuma expectativa de encontrar algum documento comprovando a prisão de Mário Alves. Esse documento não nos é relevante para chegar à conclusão que Mário Alves foi morto nas dependências do Exército brasileiro."

O petição com a justificativa apresentada pelos ex-agentes da repressão que não compareceram à audiência não foi aceita pela coordenadora Rosa Cardoso e pelo presidente da CEV-Rio Wadih Damous. Os representantes da CNV e da CEV-Rio notificarão o Ministério Público e pedirão a condução coercitiva dos três ex-militares.

Comissão Nacional da Verdade
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