Comissão de Pernambuco entrega à CNV novas pistas sobre o desaparecimento de Paulo Stuart Wright - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Quinta, 05 de Setembro de 2013 às 15:22

Comissão de Pernambuco entrega à CNV novas pistas sobre o desaparecimento de Paulo Stuart Wright

Manoel JCDRepresentantes da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara, de Pernambuco, entregaram à Comissão Nacional da Verdade, ontem à noite em Florianópolis, uma série de documentos sobre a operação realizada pela repressão, no Recife, para eliminar membros da Ação Popular Marxista Leninista (APML), organização originada da Ação Popular, criada por jovens de origem cristã para combater a ditadura, e na qual militava o desaparecido catarinense Paulo Stuart Wright.

A documentação traz detalhes sobre o "Teatrinho da Caxangá", fraude montada em 29 de outubro de 1973 para encobrir a real causa das mortes José Carlos da Mata Machado e Gildo Lacerda, militantes da APML, presos, respectivamente, em São Paulo e Salvador, e mortos na capital pernambucana, sob tortura, no Doi-Codi do Recife. Sabe-se que o suposto tiroteio informado pelas forças de segurança naquela época não ocorreu como descrito ou não ocorreu, uma vez que há testemunhas que afirmam ter visto Gildo morto no Doi.

Os documentos, produzidos pela agência de Recife do Serviço Nacional de Informações (SNI), e que se encontravam no acervo do Arquivo Nacional em Brasília, onde a Comissão Pernambucana pesquisa com apoio da CNV, inserem nesta cena do tiroteio uma pessoa de codinome Antônio ou João Stuarte Right estaria no suposto tiroteio em que a repressão afirma que Machado e Lacerda foram mortos. O documento informa que "Right" fora baleado, mas fugiu.

Um documento posterior, emitido pela mesma agência, informa em dezembro que João Stuart Right era, na verdade, Paulo Stuart Wright, militante da APML. O documento não informa, contudo, seu destino, nem explica se ele estava sob custódia.

Depoimentos que contam a exumação sigilosa realizada pela família de Machado no cemitério da Várzea, no Recife, para resgatar o corpo de José Carlos da Mata Machado, indicam que ao lado de seu corpo estava o de Gildo e ao lado um terceiro corpo, não-identificado.

As informações foram apresentadas ontem em Florianópolis, pelo membro da Comissão de Pernambuco Manoel Moraes, durante audiência pública realizada pelo Coletivo Catarinense de Memória Verdade e Justiça, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, para obter informações sobre o desaparecimento de Wright, cassado em 1964 pela Alesc por ordem da ditadura sob o argumento de quebra de decoro parlamentar (veja mais abaixo).

O que se sabe até hoje é que Wright foi preso no início de setembro de 1973 em São Paulo e levado para o Doi-Codi de São Paulo. Um colega da APML afirma que viu o casaco que Paulo vestia em uma sala de tortura e uma testemunha afirma ter visto o catarinense na sala de identificação do Doi.

O coordenador da CNV, José Carlos Dias, advogou para Wright. Ele foi contratado por Jaime Wright, pastor presbiteriano e irmão de Paulo. Foi José Carlos que descobriu a testemunha que viu Paulo Stuart no Doi.

Temendo pela vida da testemunha, Dias apresentou o depoimento que colheu dela em uma sessão secreta no Superior Tribunal Militar. O Tribunal ordenou que o Exército informasse a localização de Paulo Stuart, mas o Exército negou que ele tenha passado pelo Doi-Codi de SP.

"Disse na ocasião que temia que Paulo Stuart estivesse morto, mas que a sociedade tinha o direito de saber se ele estava vivo ou morto e se estava lá", afirmou Dias, que se emocionou muito na audiência, especialmente por conhecer João Paulo Wright, filho de Paulo. "Fui amigo de seu tio, Jaime Wright, mas não consegui ser amigo do Paulo, pois não pude conhecê-lo, mas me tornei um seu devoto", afirmou.

A confirmação da morte de Paulo só apareceu dez anos depois, em 1984, com a abertura dos acervos do DOPS do Paraná. Na ficha de Wright constava a inscrição "falecido".

Moraes propôs a realização de audiências ou oitivas reservadas conjuntas entre as comissões pernambucana e nacional para ouvir agentes da repressão de PE e SP e outras testemunhas para obter mais informações sobre a operação para o desmonte da APML e para tentar preencher as lacunas sobre se Wright foi realmente levado de São Paulo para Pernambuco e tentar obter mais informações sobre a morte dos militantes da APML mencionados e a queda de vários deles em Pernambuco.

AUDIÊNCIA E SESSÃO – Após a audiência pública, coordenada pela deputada Luciana Caminatti, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesc, foi realizada uma sessão solene na assembleia em homenagem à Paulo Stuart Wright, presidida pela deputada Ângela Albano.

Em ambas as sessões foram lembradas a vida de Wright e o episódio de sua cassação. João Paulo Wright se emocionou, na sessão solene, ao relembrar a mobilização conduzida por seu tio, Jaime Wright e suas primas em busca de informações sobre o deputado cassado. Na audiência, João Paulo lembrou os 40 anos de luta de sua família na busca por informações e disse que o Brasil evoluiu muito após a ditadura, mas ainda tem muito que avançar na luta para saber as reais circunstâncias das mortes e desaparecimentos políticos. Na sessão solene, Wright pediu Justiça para os crimes da ditadura.

A ex-presa política Derlei Catarina de Lucca, do Coletivo Catarinense de Memória Verdade e Justiça lembrou o episódio da "segunda cassação" de Wright no qual a Alesc retirou o nome do deputado cassado de uma estrada em Santa Catarina. A pressão popular, contudo, levou o governador do Estado a vetar a medida.

O ex-deputado estadual Antonio Pichetti contou na sessão solene que votou contra a cassação de Paulo Wright. "Ele sentava-se a meu lado e, apesar de eu ser da situação e ele da oposição, concordávamos em diversos pontos e sabia que ele era um homem honrado e tive a atitude de não concordar com aquela farsa (Paulo foi cassado sob o argumento de quebra de decoro parlamentar por não usar terno e gravata nas sessões legislativas). Eu tinha que marcar a independência do legislativo", disse.

Na audiência, Regina Maura Santos Soares, Presidente do Instituto Paulo Stuart Wright, relembrou a luta dela e outros funcionários da assembleia e de alguns deputados para batizar o plenarinho da casa com o nome de Wright. "Em 1982, quando entrei na casa era proibido mencionar seu nome aqui. Havia um silêncio constrangedor", afirmou. Em seguida, ela revelou os nomes dos deputados que cassaram Wright.

A audiência e a sessão solene fizeram parte da Semana Paulo Stuart Wright, um conjunto de eventos que estão sendo realizado pelo Coletivo Catarinense de Memória, Verdade e Justiça, em parceria com a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, com a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão da Verdade Catarinense e diversas entidades da sociedade civil.

Hoje, às 14h, a semana continua com audiência da comissão estadual para ouvir mulheres catarinenses vítimas da repressão. Pesquisadoras do GT Gênero da CNV acompanham a audiência para colher depoimentos de mulheres que não se sintam à vontade para revelar em público as violências sofridas.

Comissão Nacional da Verdade
Assessoria de Comunicação

Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
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