Ato sindical unitário homenageia líderes do CGT - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Terça, 01 de Outubro de 2013 às 16:00

Ato sindical unitário homenageia líderes do CGT

ato sindicalAs centrais sindicais que integram o coletivo de apoio ao grupo de trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical, da Comissão Nacional da Verdade, formado por integrantes das centrais sindicais brasileiras, realizaram hoje o Ato Sindical Unitário "O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e o enfrentamento ao golpe de 64 – Homenagem aos Lutadores", no Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo.

Protótipo de central sindical, o Comando Geral dos Trabalhadores foi criado em 1962 durante IV Congresso Sindical Nacional dos Trabalhadores em São Paulo. Além da organização dos trabalhadores, o comando participou ativamente da política naquele tempo e apoiou a campanha da legalidade e as reformas propostas por João Goulart. Por isso, integrantes do grupo foram duramente perseguidos após o golpe.

Hoje, dois deles, Raphael Martinelli, 89 anos, e Clodsmith Riani, prestes a completar 93 anos, foram homenageados e contaram suas histórias. Outros dois sindicalistas, que viveram aquela época, também deram seus depoimentos: Oswaldo Lourenço, líder portuário em Santos, e Alcídio Boano, líder dos condutores de São Paulo.

O evento contou com a participação da coordenadora do GT Sindical da CNV, Rosa Cardoso. Segundo a advogada, a Comissão da Verdade, além de investigar casos tem também que atuar em eventos para reviver a memória daqueles que lutaram, como hoje, uma vez que suas histórias servem de exemplo e inspiram.

"Nós não só contamos uma história, fazemos investigação também. Por isso o nosso trabalho é complexo, pois teremos que realizar diligências, examinar autópsias e refazer perícias. Não é, portanto, uma pesquisa somente sobre a vida das pessoas, é preciso pesquisar também o que aconteceu com os sindicatos: intervenções, cassações e apurar o confronto da classe empresarial com os trabalhadores: a vigilância, as listas negras, os conluios e a sua integração com os órgãos de segurança", afirmou.

"Esse grupo de trabalho quer conhecer bem esse passado e quando a gente revê as lutas e as comemora, a gente reflete também sobre as lutas que estão hoje nas ruas, pois os jovens podem olhar para essas lutas e se identificar com elas", disse a integrante da CNV.

DEPOIMENTOS – O primeiro depoimento foi de Alcídio Boano, três vezes presidente do Sindicato dos Condutores, preso e torturado pela ditadura em virtude de suas atividades sindicais. Sua história foi exibida em vídeo produzido pela Nova Central Sindical dos Trabalhadores, que transmitiu o ato ao vivo.

Boano, entretanto, surpreendeu e compareceu ao ato e acrescentou que precisou de dez cirurgias nos olhos, a última há três meses, para voltar a enxergar plenamente. Ele adquiriu o problema de visão por ler no escuro enquanto esteve preso nas dependências do DOPS.

O santista Oswaldo Lourenço, ex-líder portuário, hoje defende direitos de aposentados e representou a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil. Ele foi preso e torturado duas vezes por conta de sua militância sindical, comunista e na Ação Libertadora Nacional (ALN). "Tudo que passei foi devido a minha consciência de operário. Hoje é a minha experiência e não me arrependo de nada", afirmou.

Numa de suas prisões, ele foi algemado e, escoltado por militares armados com metralhadoras, obrigado a caminhar da antiga cadeia pública até o fórum da cidade, sob execração pública.

O depoimento de Martinelli foi exibido em vídeo, produzido pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no qual contou a história do CGT. Em discurso logo em seguida, o ex-líder sindical, que integra o Fórum dos Presos Políticos de São Paulo, ressaltou a importância das comissões da verdade.

"Todos os sindicatos deveriam fazer a comissão da verdade. Isso é importante. Esse conjunto nacional é que vai fazer a Justiça acontecer. Quantos companheiros nossos morreram na tortura. É por eles que estamos aqui exercendo nosso papel de patriotas", afirmou. Martinelli considera o programa do CGT até hoje. "Se nós pegarmos o programa do CGT, o programa continua o de 64: reforma agrária, reforma do sistema educacional", afirmou.

Clodsmith Riani foi o fundador do CGT em Minas Gerais e também deputado estadual pelo PTB entre 1954 e 1964, quando foi cassado, preso e torturado. Após a Anistia voltou à política e se elegeu deputado estadual de novo, pelo PMDB, em 1982.

Muito ligado ao presidente João Goulart, Riani representou trabalhadores brasileiros em diversas viagens oficiais. Em seu depoimento de hoje contou a tensão dos dias que antecederam e logo após o golpe.

Riani foi preso em abril de 1964. Inocente apresentou-se ao batalhão de Juiz de Fora, cidade onde vive até hoje e o coronel pediu que ele assinasse uma falsa confissão: "Você vai colaborar conosco? Basta assinar um documento simples, dizendo que Brizola e Jango são comunistas", disse o militar. "Não assinei, pois eles não eram. Saí da sala e passei por um corredor polonês de militares chutando meus tornozelos", contou Riani. De Juiz de Fora, ele foi transferido para Belo Horizonte, mas a cadeia estava lotada. "Era um por cima do outro, pois não tinha lugar", afirmou.

MOBILIZAÇÃO – Os atos unitários ocorrerão em várias cidades do país. O objetivo das centrais participantes é divulgar as atividades do GT Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical entre os sindicalistas de hoje e ampliar ao máximo a colheita de depoimentos entre militantes do passado prejudicados pela repressão política.

Durante o evento foi distribuído questionário para mapear crimes da ditadura contra os trabalhadores. O próximo ato da CNV para apurar a repressão aos trabalhadores ocorre no próximo dia 7, em Ipatinga, Minas Gerais, para relembrar os 50 anos do Massacre de Ipatinga, no qual oito trabalhadores foram metralhados por PMs na porta da Usiminas. O número de vítimas pode ser bem maior.

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Assessoria de Comunicação
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