Filha de Honestino Guimarães lembra o pai, desaparecido há 40 anos - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Quinta, 10 de Outubro de 2013 às 18:57

Filha de Honestino Guimarães lembra o pai, desaparecido há 40 anos

Desaparecimento do líder da AP é um dos mais misteriosos da ditadura

Renata Sequeira*

Rosa Monteiro, falecida em setembro do ano passado, não conseguiu encontrar respostas para tantas perguntas que tinha sobre o paradeiro do filho, Honestino Guimarães, desaparecido há 40 anos. Esclarecer as dúvidas sobre o sumiço do líder estudantil, perseguido pela ditadura militar brasileira, ficou sendo tarefa da neta, Juliana Guimarães, que prestou depoimento, nesta quinta-feira (10/10), à Comissão da Verdade do Rio, no IFCS/UFRJ. Ela tinha apenas três anos de idade quando o pai desapareceu.

"Eu cresci ouvindo histórias. Tenho poucas fotos e todas as dúvidas. Ele era um sonhador e me contaram que era um ser humano generoso e lutava por aquilo que acreditava. Hoje, se completam 40 anos do desaparecimento do meu pai e não sabemos de nada. Mas, com a anistia, conseguimos duas importantes mudanças na certidão de óbito: de falecido para desaparecido em 10 de outubro de 1973 e a causa da morte passou a ser crime cometido pelo Estado", contou Juliana, que lançou a campanha Trilhas do Honestino para recolher informações que possam auxiliar na busca por seu pai.

Honestino Guimarães foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e, devido a sua militância política, era perseguido por diversos órgãos da repressão, como o Centro de Informações da Marinha (Cenimar), que teria sido o órgão responsável pela sua prisão. Para o presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, o caso de Honestino é singular pelo fato de não ter havido testemunhas de sua prisão ou pistas sobre o seu paradeiro.

"O desaparecimento de Honestino não deixou rastros e isso quebra o padrão em relação a outros desaparecidos políticos. Há especulações de que ele teria sido preso pela Marinha ou levado para a Casa da Morte, em Petrópolis. Seu caso talvez seja o mais nebuloso dos desaparecimentos forçados da ditadura. O que sabemos é que ele era procurado por diversos órgãos da repressão e o nosso trabalho é tentar montar esse mosaico", afirmou Wadih Damous.

Além do depoimento de Juliana, usaram a palavra dois companheiros do líder estudantil: Agostinho Guerreiro, militante, junto com Honestino, na organização Ação Popular (AP), e o vereador Eliomar Coelho, seu colega na UNB. Agostinho contou que, na clandestinidade, já casado com Isaura Botelho, mãe de Juliana, esperava o contato do amigo para marcar um encontro entre ele e a filha.

"Éramos muito amigos, além de companheiros de organização. Ele ficava feliz de estarmos com a Juliana, mas sofria muito com a distância. A frequência dos encontros era determinada por ele e por meio de códigos. Em nome de todos os militantes e todas as militantes, mas especialmente pelo Gui, como Honestino era chamado, eu acuso o Cenimar, eu acuso os militares e a ditadura militar. Esses crimes não podem ficar impunes e a luta dele não termina", disse emocionado.

Elia Menezes, que conheceu Honestino na clandestinidade, preferiu entregar seu depoimento por escrito. Coube à filha, Janaína, ler um trecho do relato. Ela escolheu o momento em que a mãe conheceu Honestino, a quem chamava por Hermano. Elia acolheu Honestino, por alguns dias, em sua casa e só descobriu que Honestino era Hermano após o seu desaparecimento.

O Testemunho da Verdade, realizado em parceria com a Comissão da Verdade e Memória da UFRJ, contou ainda com a presença da presidente da UNE, Vic Barros, e do diretor do IFCS, Marco Aurélio Santana.

*Da Assessoria de Imprensa da Comissão da Verdade do Rio



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