Família de desaparecido argentino colaborará com a CNV - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Sábado, 12 de Outubro de 2013 às 12:12

Família de desaparecido argentino colaborará com a CNV

mesa-da-audienciaApós repercussão internacional da audiência sobre desaparecimentos no Brasil e na Argentina, sobrinha de Antonio Pregoni entra em contato com a CNV para colaborar com as investigações. Familiares do desaparecido ainda não tinham sido localizados pela comissão, nem pelo governo daquele País. Evento, organizado em conjunto pela Comissão Nacional da Verdade e Comissão Estadual, fez revelações importantes sobre o desaparecimento de estrangeiros no Brasil.

De acordo com os documentos da base de dados do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) e do Arquivo Nacional, apresentados hoje (11/10) na Assembléia Legislativa de São Paulo, existe uma ligação entre o desaparecimento do argentino Antonio Pregoni, do francês Jean Henri Raya e do brasileiro Caiupy de Castro, que foram vistos pela última vez em novembro de 1973, no Rio; e o desaparecimento do ex-major do Exército, Joaquim Pires Cerveira, visto pela última vez em dezembro, em Buenos Aires.

A investigação está sendo realizada pelo Grupo de Trabalho Operação Condor, da CNV, e pela pesquisadora da USP, Janaína Teles. Para Janaína, esse levantamento é fundamental, principalmente porque revela um monitoramento anterior à década de 70. "A participação do Brasil, que sequestrou gente no Cone Sul e possivelmente também na Europa, é muito anterior à criação da Condor. A cooperação inclui Uruguai, Chile e Argentina, e essa cooperação era muito mais complexa do que a historiografia diz normalmente", revelou.

Punição

A Operação Condor foi uma aliança entre os regimes autoritários da América do Sul, ocorrida nas décadas de 70 e 80. Carlos Lafforgue, diretor do Arquivo Nacional da Memória da Argentina, disse, em seu depoimento, que ainda é necessário descobrir muitas informações sobre o caso. "Temos feito uma investigação muito profunda sobre o plano Condor. Esse plano não tem data de nascimento, ninguém sabe quem é o padrinho, quem é seu pai ou mãe. Mas, se não temos uma figura representante, nós temos as vítimas", afirmou.

Lafforgue destacou o cuidadoso trabalho de cruzamento de dados e de endereços, por meio do qual foi possível criar um relatório com 700 nomes de pessoas que desapareceram em países vizinhos, dentre os quais há, pelo menos, trinta brasileiros. Segundo o diretor, na Argentina, há cerca de 500 pessoas condenadas pelos crimes cometidos durante a ditadura.

Para Rosa Cardoso, membro da CNV, o caso ainda pode se tornar um inquérito no Ministério Público. Ela exigiu muito rigor, mas também pressa, porque essa história precisa ser contada. "Essa atividade é complexa, porque implica em nós termos que apurar o fato com muita precisão, ouvindo vítimas, mas também os torturadores e assassinos em alguns casos. Mas, ao mesmo tempo, nós temos pressa, porque também esses violadores estão morrendo. Nós todos estamos ficando velhos. Essa história precisa ter resultados para os sobreviventes", destacou.

A psicanalista Mabel Bernis, viúva de Raya, se emocionou ao tomar conhecimento do andamento dos trabalhos, e revelou nunca ter imaginado que esse dia chegaria. "Se há assassinados, há assassinos, e isso tem que ser investigado. Que haja justiça para todos. A verdade tem que aparecer, tem que surgir. Não importa o tempo que passe", afirmou.

Família Pregoni

Logo no começo da apresentação, André Sabóia, secretário-executivo da CNV, fez uma revelação inesperada: depois de anos de busca, a família Pregoni entrou em contato. "Pouco antes de começar a audiência, recebemos uma ligação de Cecília Pregoni, sobrinha de Antônio, que vive em Córdoba. Ela disse que, ao saber da audiência, fez uma petição à Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas da Argentina (CONADEP) a fim de abrir um inquérito no país. É importante ressaltar que nenhum desses casos é processo em outros países. Essa é uma notícia importante, que mostra a importância da difusão desse processo de audiências públicas, que não é só um trabalho pedagógico, mas também, de difusão", comemorou.

Segundo Cecília, Pregoni possui dois irmãos vivos, que também vão colaborar com as investigações, e um amigo, que testemunhou o caso, já está sendo procurado. O desaparecimento do argentino, que completa 40 anos no próximo mês, parece ter finalmente encontrado uma luz no fim do túnel.

Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira e Thiago Vilela
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