CNV e CEV-SP ouvem depoimentos sobre assassinatos de militares que resistiram à ditadura - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Segunda, 11 de Novembro de 2013 às 23:53

CNV e CEV-SP ouvem depoimentos sobre assassinatos de militares que resistiram à ditadura

DSC01593--PUBLICO"Esta audiência tem como objetivo mostrar que nossos militares não são torturadores e golpistas. Nossos militares são aqueles que resistiram ao golpe", afirmou Ivan Seixas, coordenador da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo "Rubens Paiva" (CEV-SP).

No evento, ocorrido na última segunda (11/11), foram colhidos depoimentos de militares que resistiram à ditadura e são testemunhas do assassinato sob tortura dos policiais militares José Ferreira de Almeida e José Maximino de Andrade no DOI-CODI do II Exército, em São Paulo. Rosa Cardoso, membro da CNV, iniciou os trabalhos, e ressaltou a importância de se discutir o papel das Forças Armadas no Brasil.  

Primeiro a depor, o Coronel Vicente Sylvestre ficou conhecido por ter desobedecido ordens diretas do Exército, no caso que ficou conhecido como "Batalha da Maria Antônia", um conflito que envolveu policiais e estudantes, em 1968. "Caso eu tivesse sido obedecido a ordem de invadir o prédio da Maria Antônia, teria sido um verdadeiro banho de sangue", afirmou. Sequestrado pela Polícia, Vicente foi preso em julho de 1975 e torturado nas dependências do DOI-Codi.

O Professor Paulo Ribeiro da Cunha, consultor da CNV, chamou atenção em sua exposição que o grupo de militares foi proporcionalmente o mais atingido pela repressão, quando comparada às demais categorias sociais. Foram cerca de 7500 oficiais e praças das três Forças Armadas, e ele garante que, ao final dos trabalhos, esse número deve subir, quando forem contabilizados os números dos militares atingidos nos anos seguintes ao golpe até os anos 80.

Violência

Eugenia Zerbini, filha do general Euryale de Jesus Zerbini (cassado pela Ditadura), ressaltou que o regime militar foi apoiada por setores de toda a sociedade. "Eu ouvia de colegas da escola que meu pai era comunista, que eu devia ir para Cuba. Mesmo parentes próximos disseram, quando minha mãe foi presa, que se ela estava presa é porque realmente tinha feito alguma coisa", lembrou.

Zerbini declarou recentemente à revista Brasileiros que sofreu violência sexual por agentes da repressão. Hoje, num depoimento emocionado, ela explicou novamente como sofreu abuso nas dependências da Polícia: "No dia seguinte que minha mãe foi presa, fui até a Polícia levar uma muda de roupa. Chegando lá, o oficial do dia me perguntou porque a minha mãe estava presa. Irônica, disse que 'Vocês devem saber melhor do que eu, porque foram vocês que a prenderam'. Ali mesmo fui violentada. Só me lembro de estar na rua, logo depois disso, sozinha".

Francisco da Paz, tenente da Polícia Militar, lembrou que grande parte dos PMs, principalmente praças e soldados, participavam do movimento de apoio pelas Reformas de Base. "Os militares foram os primeiros a sofrer os efeitos do golpe. As diretorias das Associações Militares foram expulsas, e substituídas por militares reacionários. Isso desmobilizou as nossas reivindicações", afirmou.

Pedro Lobo, Major reformado da Polícia Militar, prestou um depoimento enérgico. "Eu protesto até hoje que eles nos chamavam de terrorista. A Ditadura é que foi terrorista. A Ditadura é que rasgou a constituição. A Ditadura é que tirou do cidadão o direito a um julgamento justo. Por pior que seja o crime, por pior que sejam as intenções, a pessoa deve ter direito a um advogado. Eu e meus amigos não tivemos esse direito", recordou.

Memória

Encerrando os trabalhos, Capitão Darcy Rodrigues, amigo de um dos líderes da oposição armada à Ditadura, Carlos Lamarca, deu detalhes sobre a vida do comandante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

"Uma frase que Lamarca sempre dizia é que 'Morrer não seria tão difícil. Difícil seria sobreviver, porque significaria ter que conviver com todas as lembranças dos companheiros que pereceram no caminho'. E essa frase profética se transformou em verdade. Nunca esquecerei do capitão. Jamais esquecerei do seu apego à liberdade, do seu apego à igualdade. Em outras palavras, nunca esquecerei das ideias do socialismo", disse.

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Assessoria de Comunicação
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