Galeão: vítimas reconhecem locais de prisão e tortura durante visita da CNV à Base Aérea - CNV - Comissão Nacional da Verdade
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão temporário criado pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, encerrou suas atividades em 10 de dezembro de 2014, com a entrega de seu Relatório Final. Esta cópia do portal da CNV é mantida pelo Centro de Referência Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional.

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Sexta, 30 de Maio de 2014 às 17:13

Galeão: vítimas reconhecem locais de prisão e tortura durante visita da CNV à Base Aérea

00 galeao siteCinco pessoas que estiveram presas e/ou foram torturadas na Base Aérea do Galeão, nos anos 70, reconheceram diferentes pontos da instalação como locais de prisão e tortura durante a ditadura militar. Algumas delas, mais de quarenta anos depois, retornaram ao local hoje de manhã durante diligência de reconhecimento realizada por membros, peritos e assessores da Comissão Nacional da Verdade na Base Aérea.

Das cinco vítimas, três eram militares e iniciaram serviço na Força Aérea entre 1971 e 1978: Adir Figueira, Jório Gonçalves Dantas e José Bezerra da Silva. Bezerra afirma ter sido torturado por dois superiores por ter chamado de covardia as agressões sofridas por Stuart Angel, quando o militante esteve preso no Galeão, em junho de 1971.

Acompanhados do ex-soldado Dailton Fortes Soares, que integrou a Polícia da Aeronáutica, os ex-militares indicaram uma área de lazer da Base Aérea do Galeão, conhecida desde 1982 como Clube do Mickey, como o local onde teria funcionado a prisão onde Stuart Angel foi torturado e morto. "Aqui era a prisão do Cisa (Centro de Informações da Aeronáutica). Neste ponto havia uma cancela onde as viaturas paravam e de onde desciam os presos, que eram vigiados por sentinelas a paisana", afirmou Bezerra, que hoje advoga em defesa de ex-militares que, como ele, foram perseguidos e ou presos. A versão dele é confirmada por Soares.

Apesar das reformas que mudaram características de vários edifícios da base, Soares e Jório Dantas reconheceram também como local de prisão e tortura o prédio do antigo Pelotão de Investigação Criminal da Polícia da Aeronáutica, onde hoje funciona o Batalhão do Galeão.

Em seguida, Dantas e Figueira reconheceram o prédio da custódia da Base Aérea como o local onde estiveram presos, inclusive indicando as celas onde afirmam ter cumprido longas temporadas de prisão. Figueira reconheceu ainda uma sala no prédio do comando da Base Aérea, onde funcionava o Setor de Investigação e Justiça, local de sua primeira prisão, em 1978.

CIVIS – O ex-preso político Jefferson Lopetegui de Alencar Osório, filho do coronel Jefferson Cardim, não reconheceu nenhuma sala especificamente, mas identificou o local da Base Aérea onde parou a aeronave da FAB que o trouxe sequestrado de Buenos Aires com o pai, em 17 de setembro de 1970. Quatro dias antes, uma equipe de militares brasileiros, com o apoio de agentes argentinos, os prendeu no Ferry Boat da capital portenha, cidade onde ficaram até serem expulsos formalmente do país vizinho.

O ex-militante da VAR-Palmares Sérgio Emanuel Dias Campos também reconheceu a Base Aérea do Galeão como o local de sua prisão, em 1971.

QUINTA VISITA – A Base Aérea do Galeão é a quinta estrutura que foi usada pelas forças de repressão como local de prisão, tortura e morte que a CNV reconheceu. A CNV já esteve no Doi-Codi do 2º Exército, em São Paulo (hoje uma instalação da Polícia Civil de São Paulo e que foi tombada pelo órgão estadual de Patrimônio Histórico), no Doi-Codi do 1º Exército e na antiga 1ª Companhia de Polícia do Exército da Vila Militar, ambos no Rio, e na Escola de Aprendizes Marinheiros, em Florianópolis.

Para o coordenador da CNV, Pedro Dallari, as visitas a instalações das Forças Armadas são importantes, pois vão além do registro documental. "Há coisas que não se apuram só com documentos", afirmou. "A característica das investigações da CNV, na busca da verdade sobre o passado, aumenta a importância da visita de vítimas e testemunhas aos locais de prisão, tortura e morte, o que permite levantar situações concretas de violações de direitos humanos que apenas documentos não nos possibilitariam", disse.

Dallari participou da diligência com os membros da CNV José Carlos Dias, Maria Rita Kehl e Rosa Cardoso. A CNV foi recebida na Base Aérea do Galeão pelo comandante da unidade, coronel-aviador Flávio Luiz de Oliveira Pinto.

A Base Aérea do Galeão é um dos sete locais de tortura em instalações oficiais das Forças Armadas citados no primeiro relatório preliminar de pesquisa divulgado pela CNV em fevereiro deste ano. Veja aqui.

No relatório, a CNV requereu ao Ministério da Defesa a abertura de sindicâncias administrativas para apurar o desvio de finalidade no uso das sete instalações das Forças Armadas ali indicadas.

Cumprindo o requerido pela CNV, as sindicâncias foram abertas por cada uma das forças. Uma das unidades indicadas no relatório é a Base Aérea do Galeão, objeto da sindicância instalada pela Aeronáutica, em 31 de março deste ano, por meio da portaria 457/GCI. O encarregado pela sindicância é o major brigadeiro-do-ar Raul Botelho.

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Assessoria de Comunicação

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